quarta-feira, 20 de julho de 2011

Estar presente.

Recentemente, voltei à uma atividade que há muito abandonara: o teatro. Somam-se mais de 15 anos das aulas com Edison Madella, os exercícios, o burburinho do espetáculo. Mas, creio que assim como as Artes Marciais, as Artes Cênicas sempre estiveram presentes de uma ou outra forma em minha vida. Procurei amenizar a falta que sentia do atuar buscando em minhas amizades a companhia de pessoas integradas no meio artístico, na dança, na moda, nesse mundo plástico e lindo, simples e louco, enfim!

Voltando agora a participar de oficinas de teatro (no momento, a dos Sátyros), percebo ensinamentos e admoestações em tudo semelhantes às que utilizamos nas lutas e treinos de Kung Fu. Paralelos que me surpreenderam, desde exercícios de Chi-kung até filosofia aplicada no atuar-lutar.
Um dos pontos que é muito enfatizado é o "estar presente", é a doação da total atenção do ator ao momento do palco. Não tem como alguém que pratique a Arte da Guerra não se sentir familiar à este conceito.
Qualquer aluno de Kung Fu, mesmo o iniciante, sabe o que acontece quando não se está presente ao treino, quando a mente divaga solta ou mesmo se prende obcecadamente à um ponto fora do foco do exercício do momento. Além do exemplo óbvio do cenário de luta, o não estar presente "se entrega" na sutileza da forma realizada de maneira errônea, com a intenção deslocada, sem a energia apropriada. O estudante avançado reconhece este estado "solto" e interrompe a forma, o exercício, alinha seu Chi, sua vontade, sua Percepção.

No teatro, o ator "ausente" se percebe fora da cena, do tempo, da ação. Está ali, mas não está ali, e a Verdade da sua intenção não atinge a platéia como desejaria.

O que percebo, no ator e no artista marcial, é a necessidade de abraçar o conceito de Wu-Wei, a ação pela não ação do Taoísmo, a busca pelo momento em que não há mais a luta racional pelo movimento, seja ele interno ou externo, mas onde este acontece de forma pura e limpa e livre.

Voltaremos à isso.




"Tudo é um vazio: você mesmo, a espada que é brandida e os braços que a manejam. Até a idéia de vazio desaparece. Desse Vazio absoluto desabrocha, maravilhosamente, o ato puro."
TAKUAN SOHO

2 comentários:

  1. é incrível como o as artes nos cobram corpo e mente presentes todo o tempo nos trabalhos que desenvolvemos... e o que mais me alucina nisso é que só se faz um bom trabalho nas artes se você ama o que está fazendo... a necessidade de concentração, de determinação e de ações conscientes todo o tempo me fascinam e percebo que sem tesão naquilo que faço não alcançaria nunca resultados bons.... O teatro completa, junta e traz sempre pessoas voltadas a um resultado em comum... fazemos amizades e cúmplices de forma deliciosa... Beijos Fá, adorei o texto!

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  2. Valeu minha linda! Gostei do "cúmplice"...

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